O homem do sebo

Hoje foi dia de Yoyo aqui em casa ❤ Ela é minha faxineira e quando ela vem, eu saio daqui para não atrapalhá-la. Estou em um momento muito gostoso, de empreender a minha vida, então trabalho a maioria dos dias em casa. Hoje fui para a biblioteca trabalhar lá. Acabei almoçando em um restaurante bem bonitinho que tinha um PF vegetariano anunciado na porta. Achei o máximo! Se você também é vegetarian@ como eu, entende como ver anúncios assim anima. É aí que percebemos como há avanços nesta mudança de escolha de vida, tanto social quanto de crenças. =)

Depois de um PF delicioso, com direito a suco de laranja e pedaço de melancia, ouvi uma conversa entre uma cliente e o dono do restaurante: “Li uma matéria outro dia, dizendo que quem é vegano, tem menos chances de ter câncer. Deve ser pq a carne faz mal, né?” — Ela me viu e continuou — “ Depois a gente conversa, mas não tô comendo carne”.

Bem, só de ouvir essa conversa, já ganhei o dia! Sorri e percebi que o Uni estava senso generoso comigo, me mostrando o quanto as coisas estão se transformando. Paguei meu prato e saí.

Logo ao lado do restaurante, vi um livro em uma vitrine que me chamou atenção. Na verdade, vários. Tinha muitos livros de magia expostos e resolvi entrar no sebo.

Comecei olhar uma das prateleiras onde estavam os livros de autoajuda e psicanálise. Pensei: Se tiver o livro os quatros compromissos do… Aha! E nem foi preciso falar o autor! O Uni já me atendeu. Achei o livro que queria!

Como estava tudo bem sincrônico, comecei a olhar melhor as prateleiras e encontrei mais um livro que queria fazia tempo, em uma edição bem delícia de ler — O efeito Sombra do Depack Chopra.

Peguei os dois livros na mão. O dono do sebo estava conversando com um senhorzinho de voz feminina. Achei que era uma mulher. A voz dele me lembrava uma vizinha que dá aulas de Italiano aqui no prédio… Logo eles se despediram. Eu comecei a olhar uma nova prateleira, com livros classificados como Esoterismo.

No meio de tantos livros sobre Ovnis e Ocultismo, encontrei um livro que me chamou muita atenção: Os mistérios de Tiahuanaco. Peguei na mão na hora! Acabei de voltar da Bolívia e essa cidade, perto de La Paz, foi o ponto alto da viagem ( literalmente, pois fica a 3900mts de altitude). Eu nunca tinha ouvido falar sobre Tiahuanaco, e olha que estudo e vivencio o Xamanismo faz um tempão. O livro era de 74. As páginas estavam até meio amareladas. Oba — pensei eu — O Uni tá me dando presentes hoje! Só coisa incrível! Pensei isso e achei um outro livro: Iniciação ao Xamanismo.

Estava super feliz com meus 4 livros na mão. Tinham vários outros interessantes por lá, mas tenho uma porção de livros aqui em casa esperando para que eu os leia. Já estava pra pagar, quando o Homem do sebo começou a conversar comigo: “ Viu quanta coisa boa tem aí?” eu respondi que sim, que estava muito feliz com meus achados. Ele continuou… “ Eu arrematei uma biblioteca inteira de um cara, mais ou menos da minha idade, que é filósofo e ocultista… Estes livros aqui (mostrando uma pilha de livros ), são todos dele. Ainda não catalogamos todos…

Eu fiquei curiosa e fui ver os livros. Logo em cima, tinha um sobre Taoismo. Olhei para o homem do sebo e disse:

_ Nossa, esse cara que cê comprou os livros desse ser uma ótima companhia para conversar… Se ele leu tudo isso mesmo, deve ter muita coisa pra ensinar.

Então ele começou a contar a história do cara, o pq ele tava vendendo aqueles livros todos, e acabamos mudando o rumo da prosa. Ele me contou que o senhorzinho que tinha saído de lá, estava ajudando ele no sebo e que ele era o menininho que estava ao lado do arquiteto Flavio de Carvalho, no dia da famosa foto em que ele percorreu o centro de São Paulo de mini saia… “Contei pra minha namorada outro dia que o senhor que tá trabalhando aqui era o menininho ao lado dele na foto”… Contei que tinha estudado moda e que estudei muito sobre o Flavio de Carvalho na faculdade… Esse papo acabou puxando outro e acabamos por conversar sobre um projeto que eu tenho que fala sobre um dono de um sebo e sua coleção de dedicatórias… Ele adorou o argumento, mas completou dizendo que o mais interessante, não eram os sebos, mas sim os bazares que ele frequentava quase que diariamente… “ Tem cada figura”- comentou ele.

Papo vai, papo vem, ele acabou por iniciar uma história, uma real, da vida dele: “ Sabe, eu fui casado com uma moça. Foi meu segundo casamento. Aí teve uma vez que aconteceu uma coisa curiosa… Eu moro aqui do lado. Quando a gente se separou, ela foi morar neste prédio vizinho aqui. Hoje ela não mora mais aí. Tá em Floripa… Agora o irmão dela que mora aí. O irmão dela é meio perturbado. Tem umas crises, sabe? Não bate muito bem… Teve uma época, quando a gente era casado, que ela quis estudar cinema. Aí eu fazia algo parecido com esse projeto que cê tem. Eu escrevia umas dedicatórias pra ela… Quando não escrevia, botava só o nome dela e dava o livro pra ela. Aí, sabe esse cara que acabou de entrar?- ( tinha entrado um cara com um carrinho que estava pegando uns livros mais velhinhos )- Então…Ele tem uma banca que vende uns livros também… um dia ele achou um saco de lixo com vários livros dentro. Me chamou pra olhar se eu queria pra colocar pra vender aqui… Quando cheguei lá, comecei a ver que eram títulos conhecidos… até que abri um deles e vi uma dedicatória que tinha feito pra ela no dia do aniversário. Cheguei em casa furioso! Liguei pra ela e perguntei pq tinha jogado todos os livros que tinha dado pra ela no lixo… Ela me disse que não sabia de nada… e conforme eu fui falando, ela deduziu que o irmão dela tinha surtado e jogado os livros fora. Acredita? Ela não sabia que o irmão tinha jogado os livros fora. Aí ela falou que os livros eram meus… Eu disse que eram dela… Mas no fim, eu acabei comprando os livros duas vezes! Eu paguei pra esse cara aí pra ficar com eles… Até hoje eles estão lá em casa”.

( pausa dramática )

Olhei pra ele e disse: Cê sabe que tem coisa aí, né? Esse tipo de coisa não acontece assim por acaso… Que será que estes livros simbolizam para voltaram até você dessa forma?

Ele disse: “ E eu não sei? Só não entendi ainda o que fazer”.

Continuei: Sério mesmo que vc não sabe o que fazer? Alguma coisa tem aí… até pela maneira de vc contar essa história… percebo que algo aí não tá muito bem resolvido. Rimos. — “ Deve ser a minha lua em peixes. Tenho muitas paixões”. — Não bota a culpa na lua não, respondi. Rimos de novo.

Coloquei meus livros na mesa e disse que iria levar os 4. Negociamos, paguei, trocamos cartões, nos despedimos. Quando estava quase indo embora, começou a chover. Peguei minha sombrinha na bolsa e disse pra ele: Coloca esses livros pra vender! Ele disse: “ Quais?” Aqueles que cê guarda na estante da sua casa… respondi.

Ele baixou os olhos e começou a arrumar uma prateleira de livros.

Olhei pra ele e finalizei: Pra que ficar guardando o passado, que já foi jogado fora, na estante de sua casa?

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