A história da cebolinha

A história da cebolinha

Faz 4 anos que fiz uma mega faxina no meu armário.

Separei todas as peças de roupas que já não faziam parte do mundo que estava co-criando para mim.

Este processo de revisitar as minhas peças de roupas, me levou a relembrar muitas histórias da minha vida. As roupas guardam nossas memórias, ativam nossas emoções…

Me lembro que estava num processo de muita vulnerabilidade: tinha sido demitida do meu emprego, tinha acabado de terminar um relacionamento e estava no meio da reforma do meu quarto.

Minha casa estava literalmente uma zona!

Resolvi unir o útil ao agradável e separei mais de 500 peças do meu armário para fazer um bazar. Com a venda das peças, eu conseguiria levantar um dinheiro para me ajudar nesta transição de emprego e ainda abria espaço para chamar o “novo” dentro do armário que estava sendo construído em meu quarto.

Passei o dia separando estas peças, totalmente vulnerável, até segurar um vestido do Marcelo Sommer nas mãos, o mesmo vestido que tinha usado para gravar o programa “ Ao Ponto” – com o Jairo Bauer, quando ainda era uma garota, de cabelos loiros, empolgadíssima com o mundo da moda, cheia de vontade de mudar o mundo.

Este vestido me fez parar. Fui até a cozinha para respirar um pouco e tomar um copo de água. Aí aconteceu…

Enquanto tomava a água, olhei para. uma cebolinha que brotava de uma cebola num copo de vidro que tinha colocado na janela… aquela cebolinha era EU!

Para e pensa: quando você coloca uma cebola para germinar, de onde nasce a cebolinha? Ela nasce do miolinho, daquele último pedacinho do centro, depois de todas as camadas…

O Universo estava me dando a oportunidade de fazer o mesmo processo! Eu estava, literalmente tirando todas as minhas camadas, para me ligar novamente com a minha essência e foi naquele momento, em que eu peguei nas mãos aquele vestido do Marcelo Sommer, que me reconectei com a minha essência, com o propósito maior que tinham feito eu escolher estudar moda.

Eu escolhi estudar moda, para entender melhor a sociedade, pois sempre acreditei que é a maneira mais rápida de ler os desejos das pessoas e as mudanças sociais.

Escolhi estudar moda para poder entender como funciona esta ferramenta e utiliza-la como forma de expressão, dando a “ voz” para quem a usa mostrar quem se é, suas ideologias, sua personalidade.

Meu propósito sempre foi belo, eu que fui me distanciando dele…

Neste momento, eu entendi tudo o que estava acontecendo.

Comecei a chorar e agradeci.

Agradeci a oportunidade de poder me transformar, de me reconectar com essa essência, para que agora, com consciência, não me perder de meu propósito!

Era uma oportunidade para fazer diferente!

Às vezes, certas coisas acontecem em nossas vidas, nos tirando da zona de conforto, e não nos damos conta de tudo o que elas significam…

Este período que fiquei sem emprego fixo, foi o período que mais me transformei e cresci. Eu precisava deste tempo para revisitar a minha vida e ajustar as partes que precisavam. deixar ir. Algumas delas, já não faziam sentido.

Hoje, quatro anos depois, eu honro por demais este processo! 🙏🏼

Hoje estou usando a moda como ferramenta de expressão, como autoconhecimento e ensinando mulheres a fazer este mesmo percurso.

Acredita, Confia e segue. O Universo vai te dar tudo o que precisa para se transformar!

Que estas palavras toquem o seu coração!

🙌🏼🙌🏼🙌🏼

Por trás da Armadura

Todo processo criativo nasce de uma vontade. Um desejo, uma inquietação. Criar é como se jogar de um precipício… É preciso coragem para inovar, delicadeza e harmonia entre todos os elementos… Talvez seja como cozinhar. Primeiro você escolhe os legumes, leva-os para casa e trabalha com eles. Isso todo mundo faz, mas o que os torna um prato especial, é a maneira como os corta, os temperos que usa e a maneira como você os mistura…

Procurei aqui transcender uma armadura… Encontrar o caminho que me separava do meu próprio destino, das minhas Raízes sufocadas! Por anos reneguei meus ancestrais japoneses e minha cultura, tentando ser aquilo que não era…

Foi mais ou menos assim… Estava assistindo um filme “ Dolls” do Takeshi Kitano, sempre gostei de sua direção de arte, mas este filme simplesmente me fez mudar. Foi um momento Epifânico! Encontrei-me inteiramente com meus antepassados e, sua linguagem poética, fez com que aquela sementinha sufocada em meu peito, brotasse novamente… Não sei bem explicar o que senti… Era como sair de dentro da caverna onde era rodeada por sombras e ver a verdade toda com a luz… Encontrei o que precisava para criar!

Apaixonada pelo teatro “ Bunraku” mostrado no filme, encontrei minha base para esse processo criativo, alem de me apoderar de alguns elementos do teatro “ Kabuki”, a parte mais erótica que nasceu do Bunraku… Estes foram os meus legumes! Os levei para casa através de livros e imagens para começar a criar!

Olhando todas aquelas belas imagens, lendo os textos e toda aquela história que nunca antes tive vontade de saber, fui lapidando minha alma e dando forma aos meus legumes! Procurava ali, um olhar perfeito, um lugar seguro, minha identidade a tão pouco descoberta… Ou talvez, o que sobrou dela em mim…

Tentava passar minha impressão, através de minhas roupas, que por sua vez, eram as minhas expressões! Acho que tudo o que fazia ali, era colocar no papel o meu destino, dando equilíbrio entre os dois hemisférios dentro de mim: o Oriental e o Ocidental, da mesma maneira que dava equilíbrio aos padrões e cores, respeitando o corpo que os vestia! É preciso respeitar os tecidos, seu toque, seu caimento, para então, dar forma e proporções `a ele…

Já havia cortado os legumes, agora, era necessário temperá-los… Agora chegara o momento de colocar nas roupas, sentimentos. Para isso, era preciso dar cor a elas. Buscar aquilo que queria dentro de cada armadura ali criada… Iria partir então do natural, o preto, que é a conclusão de todas as cores, para o singelo, o puro, o branco. Luz e ausência de luz, passando pela paixão, vermelho… Pronto! Temperei minha coleção com preto, branco e vermelho! Estava tudo quase pronto… Faltava agora colocar no prato os legumes, para então, prová-los! Faltava deixar claro a mensagem de minha apresentação!

A roupa tem o poder de esconder ou de mostrar tudo o que você está sentindo… E o que eu queria mostrar ali, era essa transcendência toda presente dentro de mim… Sou assimétrica, disforme! Busquei inspiração nos vestires dos Samurais, nas proporções esculturais dos figurinos o teatro “Kabuki”, na sutileza e delicadeza dos bonecos “Bunraku”.

O Contraponto da Armadura, com a leveza de suas roupas de treinamento, da espada que corta, com os movimentos imagéticos que faziam… Moda é movimento, instintivamente! Era preciso desenhar o tempo. Todo esse tempo que deixei de lado minha parte mais pura, inocente e intocada!

Tinha conseguido realizar este encontro…

E num encontro como este, nada pode dar errado!

Cris Matsuoka, 2006 — texto de apresentação de sua primeira coleção: Por trás da Armadura — Shoo Shoo — ( TCC Anhembi Morumbi)

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